O uso das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) em sala de aula

Por: Sergio Bialski

Há uma década leciono em universidades e percebo que uma série de questões básicas, ainda não resolvidas, movimentam os debates entre educadores de comunicação, o que de­manda reflexão, discussão e, acima de tudo, ação em busca de soluções para os atuais impasses.

Em pleno século XXI, se há uma coisa que não se pode mais admitir é um ensino baseado somente na transmissão da informação, já que isso, nem de longe, atende aos anseios das novas gerações, que cobram no­vas formas para potencializar competências e desenvolver habilidades.

Não é à toa que, hoje em dia, tanto se fala das chamadas “metodo­logias ativas”, ou seja, de um conjunto de processos que colocam os alu­nos como protagonistas de sua própria aprendizagem, de modo que o educador assuma essencialmente o papel de orientador.

A necessidade de inovar, portanto, deve ser compromisso diário de quem leciona e é o que tem me motivado a transformar a tradicional sala de aula num labo­ratório de testes que impliquem na adoção de práticas que atendam as expectativas dos jovens, cada vez mais conectados e exigentes.

Uma das perguntas que me faço, sempre antes de entrar na sala de aula, é a seguinte: de que modo é possível, durante 3 horas, manter o nível de atenção de alunos (especialmente os de comunicação) hiperestimulados por mensagens de WhatsApp, vídeos do YouTube e likes intermináveis do Facebook, fazendo-os perceber que determinado conhecimento será relevante para as suas vidas?

Não se trata, sem dúvida, de uma pergunta fácil de responder, mas aprendi, pela minha vivência acadêmica, que o primeiro passo consiste na capacidade de se colocar no lugar do outro, compreen­dendo-o e respeitando-o, livre de preconceitos. É o que se chama de empatia. E, para que exista empatia, é preciso transmitir o conheci­mento usando exemplos, linguagem e atividades que se encaixem na realidade dos educandos, aproximando o que está sendo ensinado do que se deseja aprender, ou, como costumo dizer, é dar sabor ao saber (por isso a palavra saber vem do latim sapere, que significa sa­bor). Aula com metodologia inovadora exige, portanto, docente com atitude inovadora e, acima de tudo, motivado para isso.

Diante dessa realidade, desenvolvi, em sala de aula, minha própria fórmula para (re)conquistar a confiança de educandos, basea­da na transmissão de alguns valores essenciais:

– Respeito: significa, desde o primeiro momento em que tenho contato com uma nova turma de educandos, não agir por imposição, evitar desentendimentos, promover a tolerância e os traços que nos unem, apesar das diferenças, e gerar um clima de absoluta harmonia.

– Entusiasmo: basta lembrar a origem da palavra, que vem do gre­go enthousiasmos, que significa “ter um deus interior” ou “estar pos­suído por Deus”. Costumo dizer e também mostrar, em sala de aula, que sempre entro com o sopro divino, como se aquela fosse a última aula a ser dada em minha vida. Tenho convicção de que essa postura é contagiante e é o que desperta e mantém a atenção em sala de aula.

– Paixão: é proteger, cuidar, ter afeição, ser solidário, importar­-se com o outro. Uma demonstração inequívoca desse sentimento pode fazer milagres para gerar mudança de atitudes em sala de aula. Sempre que falo desse valor me lembro do educador e mé­dico Janusz Korczak, que literalmente deu sua vida, movido pela paixão em prol das crianças de seu orfanato.

– Simplicidade: tornar as práticas pedagógicas objetivas, des­complicadas, evitando desperdício de tempo. Isso passa credibili­dade e conquista a confiança.

–  Humildade: seja para reconhecer melhorias nas práticas de en­sino ou para saber ouvir opiniões. Lembrando novamente do mestre Rubem Alves, diz ele que sempre vemos cursos de oratória sendo anunciados, mas nunca cursos de ‘escutatória’, já que todo mundo quer falar, mas ninguém quer ouvir.

– Atualização: é impossível ser um bom educador se não houver preocupação com a educação continuada, por meio da participação em cursos, palestras, seminários, treinamentos, debates, etc.

– Cooperação: estimular o trabalho em equipe nos torna mais for­tes e capazes de atingir metas em comum. Portanto, estimular a cons­trução de alianças é fundamental, já que saber trabalhar em equipe é uma regra de ouro para que se atinja o sucesso pessoal e profissional.

– Liderança: ser exemplo e inspirar para a vida é missão de todo educador. Muitos sabem o que fazem e como fazem suas atividades rotineiras, mas poucos sabem o porquê. Líderes têm um propósito claro e vivem por esse ideal. Palavras são importantes, mas gestos são determinantes. É o que os americanos chamam de walk the talk, ou seja, fazer o que se fala.

Além da transmissão e prática de valores, parto do pressuposto de que não há aprendizagem sem o devido estímulo, ou seja, só aprende­mos e guardamos aquilo que estimulou devidamente o nosso cérebro e que para ele teve um significado relevante. Basta perguntarmos, a nós mesmos, o que lembramos de nossas aulas do ensino médio ou até mesmo o que lembramos de nossas aulas da graduação, após algu­mas décadas sem ter contato com o que foi ensinado.

É nesse momento que recordo da teoria construtivista e de suas raízes, com Jean Piaget, ensinando-nos que o conhecimento é fruto de uma construção individual que precisa ter significado e que, nesse pro­cesso, cada um assume o papel de agente de sua própria aprendizagem.

Nada é mais forte e perene do que um aluno que se auto-mobiliza quando percebe que algo tem significado para a sua vida, pois esse es­tado de consciência o deixa mais atento e ávido por novos conhecimen­tos, despertando seu interesse e motivando sua força criativa interior.

Para que isso seja alcançado, considero imperioso, numa aula, que o educador sempre leve em conta os trabalhos de­senvolvidos por Howard Gardner, psicólogo norte-americano e também professor da Universidade de Harvard, conhecido espe­cialmente pela sua teoria das inteligências múltiplas.

Levando-se em conta que há inteligências desenvolvidas em maior ou menor grau, em cada ser humano, há que se planejar um ensino versátil, que estimule todas elas, pois privilegiar algumas, em detrimento de outras, implicará num grau maior de desatenção e desinteresse. Portanto, a conclusão é que não é admissível tra­tar educandos da mesma maneira, razão pela qual, quando planejo aulas e palestras, olho para a descrição a seguir, que resume as descobertas de Gardner, e penso o que posso fazer para estimular as várias inteligências para atingir diferentes educandos:

– inteligência linguística ou verbal: não só se refere à capacidade de comunicação oral, mas a outras formas de comunicação, como a escrita, gestual, etc. É essencial para o êxito de advogados, políticos, profissio­nais da área de comunicação (jornalistas, publicitários, relações públi­cas, radialistas, etc), escritores, linguistas, poetas e outros tantos.

– inteligência lógico-matemática: sempre muito valorizada no mun­do cartesiano em que vivemos, é visível naqueles que têm prazer em resolver problemas, equações e têm facilidade em lidar com raciocínios lógico-matemáticos e fazer deduções. Manifesta-se com intensidade em cientistas, matemáticos, engenheiros, físicos, economistas, etc.

– inteligência espacial: muito presente naqueles que reconhecem e manipulam situações que envolvem apreensões visuais, percepções apuradas de formas e objetos projetados no espaço e movimentos de um corpo em diferentes configurações. Essa capacidade de observar o mundo e os objetos em diferentes perspectivas e criar imagens men­tais está presente em profissionais como arquitetos, geógrafos, mari­nheiros, fotógrafos, designers e pintores, dentre outros.

– inteligência musical: manifesta-se naqueles que têm aptidão para identificar sons diferentes, tocar instrumentos, ler e compor peças musicais. Embora a música seja uma arte universal, presente em todas as culturas, Mozart, Beethoven, Villa Lobos, etc. são exem­plos notórios de onde pode chegar esta inteligência.

– inteligência corporal/cinestésica: presente naqueles que pos­suem habilidade para usar o corpo, ou parte dele, como forma de expressão, bem como para usar ferramentas e trabalhar os elemen­tos da motricidade. Dançarinos, músicos, cirurgiões, atletas, atores e artistas plásticos são alguns exemplos.

– inteligência intrapessoal e interpessoal: cada uma delas pode aparecer em intensidades diferentes no mesmo indivíduo. A intra­pessoal tem a ver com o autoconhecimento, em termos de poten­ciais e limitações, o que facilita alcançar determinados objetivos; já a interpessoal se relaciona com o entendimento das intenções, problemas e desejos dos outros e, portanto, tem a ver com empa­tia, sendo muito útil para trabalhar com pessoas. É marcante em psicólogos, professores, sacerdotes, políticos, etc.

– inteligência naturalista: é marcante naqueles que têm acen­tuada capacidade para discernir, identificar e classificar plantas, animais ou fenômenos naturais, como biólogos, veterinários, natu­ralistas, agrônomos, geólogos, etc.

– inteligência existencial: embora tenha sido proposta poste­riormente, e ainda não seja totalmente aceita no meio acadêmico (existindo como uma possibilidade, pois não é suportada pela prova empírica), refere-se à inteligência de refletirmos sobre grandes ques­tões, como vida e morte, percepção da realidade e sentido de nossa existência. É apurada em líderes espirituais, filósofos, etc.

A compreensão dessas inteligências é deveras importante para mostrar que podemos ser bons em algumas coisas, e não tão bons em outras, mas que todos somos capazes em algo diferente, e é desse modo que nos completamos coletivamente.

Devemos, então, estar atentos a dois passos: a individuação, que significa ensinar a cada indivíduo de modo que ele possa aprender facilmente; e a pluralização, que significa ensinar assuntos impor­tantes de diferentes maneiras, permitindo alcançar mais estudantes, afinal, alguns aprendem melhor através de contos, outros da lógica, outros, ainda, por meio de trabalhos artísticos, e assim por diante.

Assumo sempre, em meus cursos, o desafio de aplicar uma pro­posta pedagógica ousada, com diversos meios de estímulo às múlti­plas inteligências e à criatividade, de forma a mobilizar a atenção e dar significado ao conhecimento que está sendo trabalhado. Obviamente não existe receita de bolo para isso, mas recomendo fortemente o es­tudo aprofundado de metodologias ativas como: PBL (Aprendizagem Baseada em Problemas), Estudo de Casos, TBL (Aprendizagem Baseada em Times), Gameficação, Sala de Aula Invertida, Design thinking, etc.

Cada vez mais, no meu entender, deve-se acentuar o papel do educador como curador e orientador, escolhendo o que é relevante, entre tanta informação disponível, e ajudando e orientando os alu­nos a encontrarem significado. Obviamente isso demanda preparo, boa remuneração e valorização do educador.

Concluindo, parece oportuno dizer que, no médio e longo pra­zo, prevalecerão as instituições que realmente apostarem na edu­cação da comunicação com projetos pedagógicos que respondam às exigências do mundo competitivo em que vivemos, a partir da adoção de meto­dologias motivadoras, educadores inspiradores e valores de vida que façam sentido para as gerações que nos sucederão.