O comunicador empreendedor

Por: Sergio Bialski

Quantas vezes você já viu e ouviu, na área de comunicação, pessoas se queixando da empresa em que trabalham e de seus gestores, ou mesmo se queixando do baixo salário que recebem e da falta de valorização de seu esforço e talento pessoal?

Ao mesmo tempo em que percebemos essa situação ocorrer com frequência, inversamente proporcional é a quantidade de profissionais que se arriscam a buscar novos caminhos e estabelecer novos limites para a vida, já que a zona de conforto parece ser um terreno aparentemente menos pantanoso e desconhecido. E é por esse medo do imponderável que oportunidades são perdidas e deixam de se transformar no sucesso que tanto se almeja.

Certa vez ouvi de um colega empreendedor a seguinte frase: “somos o resultado da soma de tudo o que plantamos, subtraindo as oportunidades que deixamos de aproveitar ao longo de nossa existência”. Se o resultado for positivo e você estiver motivado com o seu salário, clima organizacional e gestor, e se sentir realizado com o alto nível de reconhecimento que tem, sinta-se um privilegiado e continue a sua trajetória. Mas, se estiver descontente, e se sentir que cada dia que levanta para ir ao trabalho é um peso e sofrimento, não dá para ficar parado, reclamando da vida: é chegado o momento de mudar.

Durante os quase 25 anos de minha vida corporativa na área de comunicação, uma lição de ouro que aprendi foi não resistir às mudanças, e, acima de tudo, enxergar oportunidades onde outros veem apenas ameaças. Aí, sem dúvida, encontra-se o primeiro grande aprendizado sobre o que é empreender.

Empreender não é apenas levar adiante uma ideia ou um sonho com o objetivo de atingir resultados. Empreender é estar disposto a assumir riscos, é ter em mente que, como toda nova aposta, não há garantias de sucesso. Dentro desse contexto, criatividade, autoconfiança, capacidade de implementação, pró-atividade, disciplina, desejo de assumir responsabilidades e ser independente, foco nas metas, perseverança, otimismo, visão e, acima de tudo, paixão, são algumas características que devem ser levadas em conta por um comunicador empreendedor.

As histórias que ouvimos sobre empreendedorismo, muitas vezes, são grandiloquentes. Algo do tipo: “Como larguei meu emprego bem-remunerado e dei um pontapé no meu chefe” ou “Como vencer na vida sendo um empreendedor de sucesso”. Se ainda não teve oportunidade, digite no Google a palavra ‘empreendedor’ e consulte as imagens a ela associadas. Você verá executivos engravatados, gráficos com traçados ascendentes, pessoas sorrindo, estilingues, cifrões e até mesmo gravuras reproduzindo Clark Kent abrindo sua camisa, prestes a se transformar no Superman.

Empreender não é tarefa restrita aos que são donos de seu próprio negócio. Basta olhar para os Programas de Inovação que são lançados pelas empresas, todos os anos, cujo objetivo é fazer com que os funcionários, imbuídos do espírito empreendedor, contribuam com ideias e as coloquem em prática para dar resultados às empregadoras. A bem da verdade é que, não raro, passamos a vida colocando à disposição de terceiros nossas habilidades, ideias e talentos de empreendedor, e nem sempre somos recompensados por isso.

Mas, se nossas ideias podem ser boas para o empregador, por que não servem para nós mesmos? Infelizmente, muitos potenciais empreendedores subestimam a si mesmos e não percebem que boas ideias surgem, via de regra, de pequenas melhorias e modificações no dia a dia. É o que se chama de ‘inovação incremental’. Os japoneses, ao usarem a prática de melhoria contínua, denominada Kaizen, partem do princípio do ‘hoje melhor do que ontem; amanhã melhor do que hoje’.

Há que se entender, então, que para empreender, principalmente na área de comunicação, não é necessária a chamada ‘inovação disruptiva’, genial e revolucionária do tipo Google, Facebook ou Waze. São muitos os casos de empreendedores bem-sucedidos que enxergaram oportunidades lançando um olhar diferenciado, de curiosidade e estímulo à criatividade, sobre problemas muitas vezes simples do cotidiano.

Correr riscos faz parte da essência da vida. Todo dia, quando levantamos, saímos de nossa ilha de segurança e remamos num oceano de incertezas. Não sabemos o que nos acontecerá e quais os desafios que se colocarão à nossa frente. Mesmo assim, há pessoas que ilusoriamente pensam que suas rotinas de ir e vir do trabalho parece um porto seguro e confiável. Ledo engano ! E, para elas, como também para todos, sugiro que leiam a obra Cem dias entre o céu e o mar, de Amyr Klink.

Lá se vão mais de 30 anos desde a realização desta que, mais do que uma façanha esportiva, é uma lição de empreendedorismo, em que o autor vivencia inúmeras frustrações e fracassos antes de, literalmente, colocar o seu barco no oceano e começar a remar.

A bordo da ‘lâmpada flutuante’ (apelido dado ao minúsculo barco a remo), este relato sobre a travessia do oceano Atlântico mostra como superar o inimaginável, afinal, por mais cauteloso, detalhista e sensato que Amyr tenha sido com os preparativos, não há como evitar os riscos e percalços. Mesmo diante das incertezas, do sentimento de desamparo e do incômodo de ser tachado de louco por amigos e familiares, foi em frente. Mais simbólico ainda foi o fato de que, nem bem começou a sua jornada, já enfrentou gigantesca tempestade. Mas nem ela, nem os ataques de tubarões ou outros obstáculos foram páreo ao incansável remador que enxergava beleza nos pequenos detalhes: na companhia de peixes dourados, na aproximação de baleias, no ruído das gaivotas ou na felicidade de fazer coisas simples, como uma refeição com comida desidratada.

O famoso discurso de Steve Jobs, proferido na Universidade Stanford, em 2005, fala algo mágico sobre ‘conectar pontos’, mostrando que é impossível ligá-los para frente; só conseguimos fazê-lo para trás. Na prática, isso significa que tudo o que plantarmos, hoje, só poderá ser entendido e percebido quando, no futuro, olharmos pelo espelho retrovisor e enxergarmos sentido em nossa trajetória empreendedora. Portanto, a despeito das tormentas, não há outra alternativa senão acreditar e seguir adiante. Parafraseando o discurso de Jobs, às vezes a vida nos acerta a cabeça com um tijolo. Não perca a fé e não se acomode. Mantenha-se faminto em aprender, em viver, em descobrir coisas novas. Mantenha a ingenuidade das crianças, que tanto sonham e têm a certeza de que tudo podem.